Olá

Decidi escrever o Blog por achar, como todos que escrevem, que alguém se interessará em ler o que escrevo.

Espero que algo aqui lhe seja últi.

A vida é para ser vivida e o que pudermos aprender para melhorar nossa vivência, melhor.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Bilhete Premiado

O intuito era obter o maior número de clientes possíveis. Quanto mais clientes, maior seria o sucesso alcançado. Quanto maior o sucesso, maior seria a clientela e seguiria-se uma roda de crescimento. Ele queria ser grande.
Faltava o argumento convencedor. Algo que iria fazer as pessoas desejarem o produto. Já havia muita concorrência, diversas técnicas de propaganda e recursos variados para atrair o público. Algo novo precisava ser feito para ser diferente. A novidade seria sua estratégia.
Vender bilhetes de rifa demandava muito trabalho e o lucro obtido em cada venda era muito pouco. Precisava vender uma grande quantidade para que o resultado valesse a pena todo o esforço.
Tomou uma decisão simples: O bilhete a ser vendido seria um bilhete premiado. Ótimo. Além de atrair uma multidão – um de cada vez, claro – ainda poderia vende-lo por um preço mais alto. Teria que inventar uma história. Mas isto não era a parte mais complicada. O ser humano, curioso como só ele, se enreda facilmente em contos bem desenvolvidos.
Fez a trama. Uma história sobre um bilhete supostamente viciado que lhe parou nas mãos mas que não poderia pegar porque seria muito suspeito. Precisava de alguém que não fosse da família e coisa e tal. Simples, bem engendrada.
Funcionava. Num mundo de muitos trabalhos diários, salários baixos, dificuldades financeiras, de transporte, de saúde, pouca educação e sofrimentos, a promessa de qualquer ganho extra atrai muita gente. E muitos caiam na história dando boas quantias por uma promessa. Era a fé do povo em ação. Claro que um ou outro daqueles bilhetes de rifa acabava mesmo sendo premiado, mas eram poucos.
O homem ficou rico vendendo resultados que não podia garantir. Na hora da promessa usava de argumentos e palavras de efeito que não tardavam em ludibriar e deixar o cliente sonhando seus sonhos de sucesso embriagado de beber pelo ouvido.
Com muito cuidado escolhia palavras de sentido amplo, pouco definidas, abertas demais mas cuja interpretação era uma e certa na hora de vender. Mas, as escolhia assim pois quando cobrado dizia que o que disse com aquela palavra foi aquilo outro, um outro significado, agora menos certeiro sobre a promessa do recebimento. Palavras ardis e selecionadas a dedo.
Ele sabia que sempre tinha que ter uma explicação para a freqüente não obtenção da promessa. Com isso, conseguia duas coisas importantes. Em primeiro lugar, não tinha um cliente chateado com razão, pois dizia que foi ele – o cliente - quem entendeu mal o que lhe foi falado, ou que não fez direito o que lhe foi dito. Em segundo lugar, se usasse de boa palavra, poderia vender outros bilhetes para o mesmo cliente. Supimpa. Tudo certo. Riqueza a custa dos outros.
A arte de vender promessas é antiga. Atrai e vende. Vende muito. Prometer coisas é sério. Bom seria se só prometesses-mos aquilo que se realizaria de fato.
Encontrei em minha igreja pessoas que esperavam promessas de coisas mirabolantes e bem além do Evangelho de Cristo. Neguei-me a prometer aquilo que não tenho certeza que Deus cumprirá. Dizer que “Profetizo tal e tal coisa sobre sua vida” sem que Deus tenha me mandado não consigo fazer. Quem sou eu para afirmar em nome de Deus que Ele fará as coisas que Ele não disse ? Acaso sou o oleiro, ou o vaso ? (Is 64:8) Pode o vaso dizer ao oleiro como deve ser feito ? (Is 29:16) Tenho temor do Senhor que me leva a não conseguir colocar palavras na boca Dele. Sim, Ele prometeu muitas coisas e estas eu divulgo. Mas tem-se prometido e esperado coisas que Ele não disse.
Claro que isso não atrai gente. Claro que os que esperavam grandes promessas se viram desamparados. Claro que sentiram falta. E fui cuidar deles. Explicar-lhes que melhor seria serem crentes maduros do que crianças na fé.
Sigo o firme propósito de ser imitador de Cristo (I Co 11:1). Cristo que não centrou sua mensagem na promessa de coisas terrenas, mas nas celestes. (MT 6:2) Não no ganho de hoje, mas na vida eterna. Não na pax que o mundo dá (paz esta baseada no poder e na riqueza), mas naquela que excede o entendimento. Será que uma casa na praia deve ser o objetivo do crente ?
Há muito líder vendendo promessas de realização daquilo que não é certo que se cumprirá. E quando não acontece, a culpa em geral é do fiel. Mas – afirmam – tente de novo, uma nova campanha, uma nova oferta e agora dará certo. Até quando ?
Até a hora que o fiel cansado de promessas já não quererá mais saber de Deus ou qualquer dos seus porta-vozes. Ele vai embora, levá-lo a Deus de volta será difícil. Tornar-se-á mais um pertencente a um grupo que não para de crescer: Os sem religião.
E o líder ? Em geral nem toma conhecimento. O fiel saiu pela porta dos fundos, mas outros novinhos em folha estão entrando pela porta da frente.
Deus tenha misericórdia dos que prometem o que não deveriam!