Olá

Decidi escrever o Blog por achar, como todos que escrevem, que alguém se interessará em ler o que escrevo.

Espero que algo aqui lhe seja últi.

A vida é para ser vivida e o que pudermos aprender para melhorar nossa vivência, melhor.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sensibilidade


A esposa liga para o marido durante a tarde em seu trabalho e lhe diz que está faltando ovos na despensa (que não é dispensa. Dispensa é do verbo dispensar, como ser dispensado (demitido) do serviço). Ao chegar da tarde, o marido entra em casa e a esposa, com a massa do bolo parada na cozinha, pergunta sobre os ovos. Ele responde que não trouxe, aliás, porque ela nem pediu.
Típica diferença homem-mulher, onde a mulher, ao dizer que falta, queria indicar que ele deveria fazer compras – mas não foi explícita. Enquanto isso, o marido típico desligou o telefone e ficou a se perguntar por que a esposa atrapalhou o seu trabalho lhe informando a quanto ia o estoque doméstico. “Informação desnecessária”, ele pensa.
Quem já não passou por isso? Ok, com certeza alguém que está lendo este texto diz “eu, eu nunca passei por coisas assim”, e considera que o texto já começou mal. Acontece que a situação acima, e suas variantes, são muito comuns e o texto fala do típico. Se com você não aconteceu (será mesmo?) melhor. Porém, insistirei no assunto por ser abrangente a muita gente, tanto casais casados como namorados, noivos, mães e filhos e diversas outras relações envolvendo sexos diferentes.
A sensibilidade feminina à necessidade do outro é maior do que a masculina. Sua predisposição natural ao maior cuidado e carinho com o próximo a leva também a ser mais atenciosa. Sua leitura das entrelinhas é mais ativa – não necessariamente mais certeira – e a leva a querer ler com muito mais frequência aquilo que não foi dito. Enquanto o homem volta-se para seu trabalho sem entender o telefonema que a esposa deu e logo se reconcentra no que já estava fazendo, a mulher, na mesma situação, iria se perguntar o porquê daquele contato e, com mais interesse de obter a resposta do que ele, concluiria que deveria levar ovos para casa.
Uma observação: com certeza haverá uma leitora deste texto, de índole mais feminista, que questionará a afirmação de que a sensibilidade feminina é maior que a masculina, explicando, mais uma vez, que se trata de algo imposto às mulheres, que elas não têm as mesmas oportunidades e estímulos que os homens e que se a sociedade se organizasse de forma mais igualitária isso não aconteceria, pois tanto homens quanto mulheres têm  (ou teriam) o mesmo cérebro e, nesta vislumbrada sociedade, teriam a mesma sensibilidade e outras coisas mais em que seríamos iguais. Ora, pois, mas estou tratando da sociedade atual. Nela, independente do motivo, a sensibilidade feminina é mais aguçada que a masculina. 
Nos círculos de casais, principalmente, vejo que esta diferença já é, para muitos, conhecida. Há diversas graças e piadas que retratam o tema. Na principal delas, o caso da mulher que corta ou pinta o cabelo e o marido nem percebe. Situação que toda a mulher casada já passou, ou não? Eu já passei por isso e é, para mim, muito curioso ver que eu não percebi o corte de míseros dois centímetros no tamanho do cabelo de minha esposa, que não dá para perceber e, no primeirodia na igreja, TODAS as mulheres elogiam o corte e vêem os tais dois centímetros a menos. Sinto-me um cego. Ou será que elas tem uma régua virtual nos olhos? É surpreendente e assustador.
Sendo a sensibilidade masculina menor, e sendo isto de conhecimento “público”, porque há uma grande insistência feminina no discurso indireto?O tipo discurso que pressupõe a ação da diminuída sensibilidade masculina? Porque somos alvos freqüentes de
“faltam ovos na despensa” ao invés de “poderia trazer 1 dúzia de ovos (de galinha, não de codorna – é preciso ser claro) quando vier do trabalho ?”
“Amor, hoje não tenho que fazer minha planilha no trabalho” ao invés de “Amor, vou chegar cedo, venha mais cedo para ficarmos juntos”
“A imagem da TV está ruim sempre, né?” ao invés de “querido vamos comprar outra TV porque esta está ruim”
“A cozinha está cheirando mal com o lixo acumulado....”  ao invés de “querido, tire o lixo da cozinha por favor ?”, ou ainda
“Tô com uma vontade de comer lasanha” ao invés de “Querido vamos comer fora hoje naquele restaurante italiano que eu gosto?”
Ouso pensar em duas razões:
Primeira: Uma tendência de todos nós, tanto homens quanto mulheres, de pensar o outro como sendo assim como sou. Logo, se o outro é como eu, e eu entenderia com poucas palavras, ele também é assim. Então, não preciso gastar muita conversa para explicar tudo tão detalhadamente.  Mas, insisto, homens e mulheres são diferentes. E, mulheres leitoras deste texto, pensar que ele pensa como você é arranjar problemas. Ele é diferente e, diga-se de passagem, você casou com ele por que ele é homem, né? Você casaria com você mesma? Portanto, reconhecer as diferenças é vantagem, negá-las, não.
Segunda: Coisa mais chata num relacionamento é ter que declarar-se precisando de carinho, beijo, abraço e atenção. Pedir para ser beijado, ou para ganhar presente e receber, tira um pouco do brilho do que foi dado. Muito melhor é ganhar demonstrações de afeto de forma espontânea. Assim, quando a esposa diz para o marido levar o lixo da cozinha pra fora e ele fez, ele atendeu um pedido dela e ponto final. O porteiro do prédio podia ter feito. Por outro lado, se ela diz que a cozinha cheira mal e ele tira o lixo, indica que ele pensou no bem estar dela. O ato, através da indireta, passa a ter um componente de demonstração de afeto que não acontece quando há um pedido direto.
Mas será que estou dizendo para as mulheres pararem de usar a indireta? Não. Nunca. Até porque nós homens também usamos deste artifício, com menos frequência, mas usamos.
O ponto que queria traçar neste texto, que acredito ser merecedor de reflexão, é que, sendo a sensibilidade diferenciada entre homens e mulheres, e sabendo disso, qualquer relação que envolva pessoas de sexos opostos precisa desenvolver formas de lidar com a diferença.
Aos homens digo que devem prestar mais atenção às indiretas da esposa, amiga, namorada. Às vezes, um presente no final do dia, uma ligação telefônica, um beijo, um elogio pode ser o que ela espera com tantas tentativas.
Às mulheres, peço (não digo, pois com mulheres aprendi que se deve pedir, não mandar.... [será ?] Bom, isto é para outro texto.) que percebam que em assuntos de muita relevância, cujo o não entendimento pode gerar problemas mais sérios do que o bolo que ficou sem ovos na pia da cozinha, deve-se evitar de exigir dos homens sensibilidade aguçada. Um pouco de palavras claras e diretas também não faz mal a ninguém.
Sensibilidade é uma coisa boa que pode produzir espinhos ou frutos agradáveis. Espero lhes ajudar a produzir bons frutos.